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Dicas de Escrita

Por que Stephen King é hoje um autor consagrado pelo público e respeitado pela crítica

Sabemos que não existe uma receita única para se tornar um escritor consagrado, mas há indícios e práticas — muitas vezes comuns aos grandes escritores — que podemos testar se cabem na nossa rotina e nos nossos objetivos de vida. Stephen King não escreveu um manual de como se tornar um escritor igual a ele. Porém, no seu livro “Sobre a escrita — a arte em memórias”, o autor fala sobre o que funcionou e o que ainda dá certo para ele.



Pode ser que essas práticas não transformem você em um escritor consagrado pelo público e respeitado pela crítica, mas, no mínimo, podem contribuir para melhorar o seu processo de escrita e, quem sabe, possam recarregar suas baterias para realizar seus sonhos de escritor.



Inspirada na história que o próprio autor contou no seu livro, elenquei algumas razões pelas quais Stephen King é um escritor de sucesso (lembrando que sucesso aqui se refere a ele ter realizado seus objetivos na profissão).

1. Ser persistente

A persistência é requisito fundamental em qualquer profissão, mas, cá entre nós, para um escritor, ela se faz ainda mais necessária. Vou dar alguns exemplos. Quando você não sabe onde aquele texto vai parar, mas precisa continuar para ver o resultado. Naquele dia em que você está exausto, mas precisa finalizar o trabalho para entregá-lo no prazo. Quando você acha que não escreveu nenhum texto bom até agora, mas sabe que, se não continuar tentando, não vai melhorar o seu nível de escrita. Naquele momento em que você está no meio do seu livro e não sabe se vai ter fôlego para continuar. E, como Stephen King comenta, quando os nãos fazem parte da sua rotina e você precisa continuar acreditando no seu sonho, como comenta neste trecho do livro:

“Quando eu tinha 14 anos (e me barbeava duas vezes por semana, precisando ou não), o prego na parede mal conseguia sustentar o peso dos bilhetes de recusa empalados nele. Troquei o prego por outro maior e continuei a escrever. Aos 16 anos, comecei a receber bilhetes de recusa acompanhados de cartas manuscritas um pouco mais encorajadoras que o conselho para parar de grampear os originais e começar a usar clipes de papel.”

2. Ter um primeiro leitor mais persistente ainda

Ter um primeiro leitor ou mais de um é uma prática sugerida por muitos escritores experientes. Isso porque, através dele, o autor tem uma visão de fora da obra, mais isenta e imparcial, além de mais descansada do que a do autor que está mergulhado na obra geralmente há bastante tempo. Outras vantagens de ter um primeiro leitor: ele ajuda com percepções que o escritor talvez não tenha oportunidade de adquirir, como questões de gênero, por exemplo. Ele consegue avaliar se a obra tem potencial para atingir (ou tocar) outras pessoas além do autor (que, geralmente, escreve para si mesmo). O primeiro leitor consegue perceber erros antes de a obra ir para a edição, o que evita futuros transtornos. Além de tudo isso, ele pode ver a obra com um potencial que o autor talvez nunca enxergasse.

Stephen King, por exemplo, teve uma experiência marcante com sua primeira leitora, que, no caso, é a sua esposa. Ela impediu que seu primeiro grande sucesso — Carry, a estranha — não passasse de um papel amassado. “Eu não conseguia me ver perdendo duas semanas, talvez um mês, em um romance de que eu não gostava nem conseguiria vender. Então joguei tudo fora. Na noite seguinte, quando voltei da escola, Tabby estava com as páginas nas mãos. Ela tinha visto o texto enquanto esvaziava a lata de lixo, espanara as cinzas de cigarro das bolas de papel amassado, alisara as páginas e começara a ler. Tabby queria que eu continuasse a história. Queria saber o resto. Eu disse que eu não sabia nada de nada sobre meninas adolescentes. Ela disse que me ajudaria com essa parte. — Você tem coisa boa aí — disse ela. — tenho certeza disso.”

3. Escolher um nicho de mercado

Um dos grandes desejos da maioria dos escritores é agradar a todo mundo, ou seja, ter um público imenso adorando as suas obras. Mas sabemos que a realidade não costuma ser essa. Stephen King, por exemplo, não escreve para todos, não agrada a todos e nunca teve essa pretensão. Desde o início, ele começou a escrever literatura de terror/horror, um gênero que ele sempre gostou e teve intimidade, mas que não é o preferido da maioria dos leitores.

O lado bom de ter um público específico, mesmo que menor, é ter mais chances de se diferenciar e de aparecer. No caso de Stephen King, ele teve ainda mais sucesso porque algumas de suas obras caíram no gosto do cinema, vindo a virar filmes, minisséries e séries de televisão. Inclusive, algumas obras fora do gênero terror, como Conta Comigo, Um Sonho de Liberdade, Christine, Eclipse Total e À Espera de um Milagre viraram filmes famosos. Isso tudo fez o escritor ganhar ainda mais notoriedade.

4. Reconhecer e validar sua história pessoal

Os escritores podem até ter objetivos e sonhos parecidos — escrever para lutar por alguma causa, para ganhar prêmios e ser reconhecido, para escrever livros, entre tantos outros — mas a história pessoal de cada um é única em muitos aspectos. Experiências da infância, da adolescência, da fase adulta, com a família, com os amigos e consigo mesmo, tudo compõe a história de um escritor, que usa, consciente ou inconscientemente, toda essa bagagem para escrever.

Na primeira parte do livro “Sobre a escrita”, Stephen King fala bastante sobre a sua infância, resgatando aspectos que o ajudaram a criar sua maneira própria de escrever. Em um destes trechos, ele diz: “isto não é uma autobiografia. É, na verdade, uma espécie de curriculum vitae, minha tentativa de mostrar como se forma um escritor. Não como se faz um escritor; eu não acredito que escritores possam ser feitos, nem pelas circunstâncias nem por autodeterminação (embora já tenha acreditado nessas coisas). O equipamento vem na embalagem original. Acredito que muitas pessoas têm pelo menos algum talento para escrever ou contar histórias, e esse talento pode ser fortalecido e afiado.”

5. Enxergar a escrita como um processo e levá-lo a sério

Stephen King, assim como outros grandes escritores, segue uma rotina de produção das suas obras que o deixa focado diariamente. Ao contrário da crença popular de que escritor trabalha só quando a criatividade “baixa”, como se fosse uma divindade ou deusa, King trabalha seguindo um script e espera pela musa. “Existe uma musa (que no meu caso é um muso), mas ele não vai cair do céu e espalhar pó de pirlimpimpim criativo por sua máquina de escrever ou seu computador. Ele mora no chão. É um cara que fica no porão. Você tem que descer até lá, e precisará mobiliar o apartamento para ele morar. É preciso fazer todo o trabalho braçal, e tudo isso enquanto a musa fuma charuto, admira os troféus que conquistou no boliche e finge ignorar você. Você acha isso justo? Eu acho. É justo que você faça todo o trabalho e queime a cachola até altas horas da noite, porque o cara com charuto e as asinhas tem o saco de magias. Têm coisas ali que podem mudar sua vida. Acredite em mim. Eu sei.”

King tem um cronograma diário bem definido. De manhã, trabalha na obra atual, sendo este o seu principal período de escrita. À tarde, se permite dar um cochilo, além de escrever cartas. À noite, se dedica ao lazer, à família e às revisões que não podem esperar.

Além da rotina, o autor zela pelo ritmo próprio de escrita. Ao começar a trabalhar em um projeto, ele não para e não diminui o ritmo porque, quando não escreve todos os dias, as personagens começam a parecer personagens e não gente de verdade e o trabalho começa a parecer trabalho, o que pode ser perigoso para um escritor. Ele gosta de escrever dez páginas por dia, o equivalente a cerca de 2 mil palavras. Em três meses, são 180 mil palavras, o que dá um livro de bom tamanho.

King, mesmo já sendo consagrado e reconhecido — vendeu mais de 400 milhões de cópias, com publicações em mais de 40 países, é o 9º autor mais traduzido no mundo, publicou 60 romances,12 coletâneas de contos e 6 livros de não ficção, escreveu cerca de 200 contos — continuou a produzir mesmo depois de grandes sucessos. Além disso, o autor mantém uma rotina produtiva que respeita o seu tempo e o seu funcionamento, cuida do corpo com uma alimentação equilibrada e caminhadas.

6. Ter metas diárias de escrita e leitura

King enfatiza a importância de ter um lugar específico para escrever. O ideal, segundo ele, é que este local tenha uma porta que você possa fechar. A porta fechada é a maneira de dizer ao mundo e a você mesmo que o assunto é sério.

Ao entrar neste lugar, o escritor já deve ter estabelecido uma meta diária. Ele sugere, para começar, 1000 palavras por dia com um dia de folga na semana. Seu trabalho é fazer com que a musa te encontre trabalhando naquele horário que você escolheu para aquela tarefa.

Quanto às leituras, King lembra da condição de ler muito para escrever bem. Inclusive, ele costuma ler de 70 a 80 livros por ano, mas você não precisa desanimar porque acha que não consegue o mesmo feito. Mesmo assim, é importante colocar a escrita na sua rotina de escritor com uma meta diária ou mensal. Ao ler outras obras, vamos descobrindo novas possibilidades, aprendemos sobre o que e como não fazer, e vamos encontrando o nosso próprio jeito de escrever, a nossa voz como escritores.

7. Ter alguém que acredite em você

Além de você, como escritor, confiar no seu próprio potencial, é importante ter uma pessoa que acredite em você. Esse alguém pode ser seu primeiro leitor ou não, o que importa é que ele apoie você quando mais precisa, até porque escrever é um trabalho solitário na maior parte do tempo.

Como Stephen King cita no livro, não precisa fazer discursos motivacionais, basta acreditar. No caso de King, a sua mulher, Tabby, foi e é essa pessoa. Ele sempre pode contar com o seu apoio constante e isso fez toda a diferença na vida dele, principalmente, nas fases mais difíceis quando o escritor estava começando a apostar na escrita e não tinha dinheiro e nem autoconfiança.

Essa é uma parte da história de Stephen King, mas poderia ser a minha ou a sua. Afinal, poucos (para não dizer nenhum) escritor começa sua jornada com sucesso e reconhecimento. E a verdade é que nem todos conseguem chegar lá, por um motivo ou outro. O que importa é aproveitar o caminho e aprender ao máximo com quem já passou pelas mesmas dúvidas e angústias do início. Boa jornada!

Cinthia Dalla Valle

 

 

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