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Dicas de Escrita

Rotina, planejamento e inspiração: o visão de autores para a escrita de narrativas longas

Conversamos com três autores de narrativas longas sobre a escrita de narrativas longas: Valesca de Assis, autora de 9 livros, Mario Augusto Pool, autor de 3 livros, e Rodrigo Rosp, editor e autor de 4 livros.

Como você une criatividade, inspiração e organização/planejamento para escrever uma narrativa longa?

Valesca de Assis:



a) Inspiração situa-se num momento anterior à escrita. É algo importantíssimo, mas uma inspiração não se realiza sozinha. Geralmente, várias ideias circulam ao meu redor durante algum tempo. Depois, uma delas se sobrepõe. É o momento de decidir o que a ideia, o tema pede em termos de pessoa verbal, tempo físico e psicológico, espaço, duração e necessidade de pesquisas.

b) Criatividade: já deve ser um hábito pensarmos e vivermos criativamente, é um exercício permanente. Aplicaremos nossas ideias pessoais e nosso estilo à inspiração organizada.

c) Planejamento e organização: tratam-se de elementos da arquitetura da narrativa. É o fazer e o refazer um texto muitas vezes.

Mario Augusto Pool:



Sou um pouco metódico, o que me ajuda na hora de organizar as ideias e construir um planejamento para a escrita da narrativa longa. No curso da Metamorfose, aprendi a utilizar uma ficha de planejamento e, desde então, venho utilizando em todos os meus livros.

A partir da ideia (inspiração), escrevo uma sinopse de poucas linhas, que dá origem a um outro texto, que é a descrição de todo o enredo. Este último é a história contada meia página. Com isso, consigo ir definindo os personagens principais e vou criando o perfil de cada um deles em uma outra planilha. Então, nesse arquivo paralelo, vou definindo como esses personagens irão atuar, detalhando as suas principais características.

Mantenho aberto os dois arquivos durante toda a escrita. Eles são orgânicos e vão sendo atualizados. As informações são acrescidas ou suprimidas de acordo com a evolução do texto e da necessidade de mudar aspectos do personagem ao longo da história, isso auxilia a manter o contexto.

É um trabalho que vai e volta, muito importante na minha orientação e na fixação de detalhes. Dessa maneira, tenho a liberdade de movimentar os personagens com mais veracidade, carregando sempre as suas características, sem esquecer detalhes importantes.

A metodologia é fundamental para que fatos novos, criados para dar fôlego ao enredo e movimentar a história, carreguem com fidelidade o perfil de cada personagem. A partir daí, cada capítulo nasce e ganha a sua sinopse, orientando a evolução do enredo com seus arcos narrativos e estruturando todo o livro.

Rodrigo Rosp:



Primeiro, é preciso se dar conta de que existem dois tipos de escritores no que diz respeito a narrativas longas. Primeiro, o tipo mais comentado, da escola do Assis Brasil, o escritor estilo arquiteto, que prega o máximo de planejamento em todas as etapas da romance, que faz um projeto tão minucioso em termos de estrutura que a escrita em si é apenas a conclusão, ou seja, a última etapa de um trabalho que já havia começado lá atrás, antes de qualquer frase ganhar o papel.

Mas há um segundo grupo, menos festejado, no qual me incluo, que é o escritor caótico: organização e planejamento não fazem parte da vida dessa pessoa (que tenta compensar com criatividade, que também pode ser chamada de inspiração).

A única coisa mais formal que existe na minha escrita é um aplicativo, estilo bloco de notas, onde registro todas as ideias que vou tendo, do modo mais completo possível, e as ideias incluem frases ou parágrafos inteiros, diálogos, enfim, todo um material bruto. A fase da escrita do romance consiste em juntar esses pedaços, editar de modo que faça sentido, e aí escrever bastante para preencher as lacunas. É assim que faço.


Dê 3 dicas práticas para quem está começando a se aventurar neste gênero. O que funciona para você que seria interessante passar adiante?

Valesca de Assis

Dica 1: viajar por uns dois dias, ficar num hotel ou casa de férias, e planejar/organizar a narrativa em grandes linhas: separar capítulos, conceber início e final.

Dica 2: escrever os capítulos, de preferência na ordem.

Dica 3: voltar para o começo e para o final e afiná-los entre si. A literatura é música também.

Mario Augusto Pool:

A primeira dica é ter a clareza do básico: início, meio e fim da história. O que você quer contar precisa estar bem claro na sua cabeça, mesmo que a trama venha a mudar e novas ideias surjam para enriquecer a narrativa. O objetivo principal precisa estar claro para o escritor. Toda mudança é possível, desde que ele saiba o que está fazendo.

Como segunda dica é definir os personagens com afinco, sobretudo os principais, mas também alguns secundários. É fundamental delinear o papel de cada um na trama. Esse trabalho é feito em paralelo com a organização dos capítulos e suas sinopses, no meu caso. Acho importante o autor enxergar toda a trama a partir dos seus personagens, para assim ir afirmando as suas escolhas e decidindo quem fica ou sai.

E, como dica final, sugiro a revisão constante e a leitura integral de todos os capítulos já existentes a cada novo capítulo que se for iniciar. Esse exercício reafirma as necessidades: o que precisa ainda ser contado, ou mesmo os fatos que tenham que ser suprimidos em capítulos anteriores, dado o novo rumo por onde a história está se encaminhando. Essa exigência a cada novo começo faz com que se possa retornar para retocar detalhes ou modificar diálogos e narrações, para fidelizar o avanço da narrativa e contextualizar melhor toda a história. Ao meu ver, essa técnica ajuda a eliminar as brechas que são naturalmente deixadas nas primeiras versões, com muita precisão.

Rodrigo Rosp

A verdadeira dica prática que tenho é fazer um esforço para registrar, na hora, do modo mais completo possível, toda e qualquer ideia, seja de texto, seja da construção do romance. Pois as ideias se vão e não voltam mais. E, claro, ter uma maneira organizada de guardar isso em meio digital.

Uma outra dica possível é para quem tem mais dificuldade em estruturar uma história longa: fazer dela várias histórias curtas. Por exemplo: desenvolver um personagem e escrever várias cenas (independentes) com esse personagem. Isso pode virar um romance. Em suma, uma narrativa longa pode muito bem ser fragmentada, não é necessário seguir o modelo mais tradicional.

Por fim, uma dica que pode funcionar também é estabelecer prazos. Afinal, a escrita artística tem isso: ela não é solicitada, é uma forma de expressão motivada pela pulsão de quem escreve. Nesse sentido, estabelecer prazos (e levá-los a sério, claro) pode ser uma ótima maneira de fazer a coisa andar.


Valesca de Assis cursou Filosofia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e é especialista em Ciências da Educação, pela mesma Universidade. Publicou 9 livros e tem prêmios como Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Artes), Prêmio Especial do Júri da União Brasileira de Escritores, Prêmio Livro do Ano da Associação Gaúcha de Escritores e Prêmio Açorianos de Literatura. Foi membro e Presidente do Conselho Estadual de Cultura do RS. Integrou o Conselho Científico do Portal das Comunidades, de Portugal, Açores.

Mario Augusto Pool é egresso do Curso Livre de Formação de Escritores, formado em Pedagogia Multimeios e Informática Educativa. É doutor em Educação e trabalha com gestão universitária. Desenvolveu metodologias educacionais baseadas em jogos e nos desafios educacionais criativos com o uso de RPG, contendo pesquisas de campo associadas aos seus estudos na informática educativa e na gamificação. Foi o fundador e Diretor da ULBRA TV (educativa). Publicou nas coletâneas, Diálogos, Anti Heróis, Contos de Mochila, Banquete, Planeta Fantástico, Primeira Pessoa. Como livros autorais publicou as novelas “No Nevoeiro”, “Parada 90”e “In The Fog”, versão em inglês lançado em NY em 2020.

Rodrigo Rosp é pós-graduado em estudos linguísticos do texto na UFRGS e Mestrado em Escrita Criativa na PUCRS. É escritor e editor da Não Editora e da Dublinense. Lançou os livros de contos "A virgem que não conhecia Picasso" (2007), "Fora do lugar" (2009) e "Fingidores` (2013) e organizou a antologia de contos cinematográficos "24 letras por segundo" (2011), todos pela Não Editora.

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