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Dicas de Escrita

5 dicas de gramática indispensáveis para escritores

Para que servem boas histórias? Para que leitores possam apreciá-las. Para que isso aconteça, é preciso que escrevamos de forma coerente. O bom domínio da gramática da língua portuguesa é fundamental nesse processo. Selecionamos aqui cinco dicas que vão te ajudar na hora de escrever:

1- Nunca esquecer da vírgula que isola o vocativo

Essa é uma das regras mais esquecidas, porém é obrigatória e sem exceção.

Ex:
- Maria, venha cá!
- E agora, José?
- Não acredito, Joana, que você fez isso

É normal que se confunda o vocativo com o sujeito da frase. Por isso mesmo, o vocativo é isolado por vírgulas. Perceba a diferença das frases:

- Esse juiz é corrupto.
- Esse, juiz, é corrupto.

Outra confusão habitual é a do vocativo com o aposto. Mas lembre-se, no vocativo você está falando COM alguém, já no aposto você está falando SOBRE alguém. Perceba:

- Ronaldo, ontem sua equipe trabalhou muito bem.
- O diretor da equipe de vendas, Ronaldo, ontem trabalhou muito bem.

Na primeira fala, se fala com Ronaldo. Na segunda, se fala sobre Ronaldo.

Uma atenção especial para o uso do vocativo nos diálogos, visto que ele é uma das três formas de se mostrar ao leitor quem está falando (as outras são a intervenção do narrador e a personalidade linguística). Usar intervenções do narrador ("disse João", "respondeu Maria") é a forma mais comum mas também mais simples, além de interromper a fluidez do diálogo com essas intervenções. Já usando o vocativo, você consegue ir organizando a conversa sem precisar recorrer às marcações.

Vejamos um exemplo:

- Não dava para esperar mais um pouco, Eduardo?
- Você sabe que não. A dor só piora.
- Tem ideia do que está fazendo, do que isso vai provocar nas pessoas que te amam?
- Já conversamos sobre isso, Sofia. Preciso fazer, não vou voltar atrás.

Note que pelas quatro falas iniciais do diálogo já sabemos que quem está conversando é Eduardo e Sofia. Cuide, também, diálogos com mais de duas pessoas. Aí talvez seja inevitável usar a interferência do narrador, mesmo que alternando com o uso do vocativo.

2- Cuidar os tempos verbais e as narrativas

Quando se vai contar uma história, é importante pensar se o narrador está contando algo passado ou algo presente. Isso irá definir o tempo verbal utilizado em nossa história.

Se o narrador for em primeira pessoa e narrar em sua velhice, o tempo predominante será o pretérito. Já se o narrador for um narrador câmera em terceira pessoa, podemos ter uma narração no presente, por exemplo.

É possível, ainda, misturar os três tempos verbais: o presente para a cena que o texto desenvolve, o pretérito para alguma lembrança e o futuro para antecipar algo ao leitor. Por isso é fundamental que você domine os tempos narrativos da língua portuguesa

3 - Paralelismo Sintático

O que se denomina paralelismo sintático é um encadeamento de funções sintáticas idênticas ou encadeamento de orações de valores sintáticos iguais. Observe os casos abaixo:

- Funcionários cogitam nova greve e isolar o governador.

O sujeito da frase é FUNCIONÁRIOS, seguido do verbo COGITAM. Mas o que eles cogitam? Observe que eles cogitam duas coisas, mas uma está expressa com um substantivo (NOVA GREVE) e outra com um verbo (ISOLAR O GOVERNO). Dessa forma, as correções possíveis para a frase são:

- Funcionários cogitam fazer nova greve e isolar o governados
ou
- Funcionaários cogitam nova greve e o isolamento do governador.

Outro exemplo:

- Ele são só trabalha, mas também é estudante.

Novamente uma mistura de verbo com substantivo. TRABALHA é verbo, mas ESTUDANTE é substantivo. As correções possíveis para a frase são:

- Ele não só trabalha, mas também estuda.
ou
- Ele não é só trabalhador, mas também estudante.

Mais um exemplo:

- Eu gosto de açaí, mamão e melão.

Esse tipo de frase é muito comum, mas o correto seria o uso de preposição nos três elementos:

- Eu gosto de açaí, de mamão e de melão.

Por fim:

- Ela viajou para a Bahia; eu, para Florianópolis.

O problema de paralelismo, aqui, está fora da língua: Bahia é um estado, já Florianópolis é a capital de Santa Catarina, ou seja, uma cidade.


As últimas duas dicas foram retiradas do livro "Sobre a Escrita", de Stephen King.


4- Evite a voz passiva


"Existem dois tipos de verbos: ativos e passivos. Com um verbo ativo, o sujeito da frase está fazendo alguma coisa. Com um verbo passivo, algo está sendo feito ao sujeito da frase. O sujeito só está deixando acontecer. Evite a voz passiva. Não sou o único que diz isso; você encontra o mesmo conselho em The Elements of Style.

Os senhores Strunk e White não especulam o porquê da atração de tantos escritores de língua inglesa pela voz passiva, mas eu gostaria de dar minha opinião: acho que escritores tímidos gostam dela pela mesma razão por que pessoas tímidas buscam parceiros passivos. A voz passiva é segura. Não existe ação problemática a enfrentar; parafraseando a rainha Vitória, o sujeito só tem que fechar os olhos e pensar na Inglaterra. Acho que escritores inseguros também sentem que, de algum modo, a voz passiva empresta autoridade a seus trabalhos, talvez até um quê de majestade. Se você considera manuais de instrução e argumentações de advogados algo majestoso, então a voz passiva tem seu valor.

O sujeito tímido escreve “a reunião será realizada às sete horas” porque, de alguma forma, a frase diz a ele “escreva dessa maneira e todos vão acreditar que você realmente sabe”. Livre-se desse pensamento traidor. Não seja um trouxa! Aprume-se, erga o queixo e assuma o controle da tal reunião! Escreva “a reunião será às sete”. É isso, meu Deus do céu! Você está se sentindo melhor, não está?

Não estou dizendo que não existe lugar para a voz passiva. Faça de conta, por exemplo, que um sujeito morreu na cozinha, mas foi parar em outro lugar. “O corpo foi tirado da cozinha e colocado no sofá da sala” é um jeito aceitável de se dizer o que aconteceu, embora “foi tirado” e “foi colocado” ainda me desagradem profundamente. Eu aceito a construção, mas não a usaria. Prefiro “Freddie e Myra carregaram o corpo para fora da cozinha e o deitaram no sofá da sala”. Por que o corpo tem que ser o sujeito da frase? Está morto, pelo amor de Deus! Xapralá!

Duas páginas de voz passiva — praticamente todos os documentos de negócios escritos até hoje, em outras palavras, para não mencionar resmas e resmas de má ficção — me dão vontade de gritar. É fraco, é indireto e muitas vezes tortuoso, também. Que tal isso: “Meu primeiro beijo sempre será lembrado por mim como a maneira como meu romance com a Shayna começou”. Cara, quem peidou? Uma maneira mais simples de expressar a ideia — mais doce e mais forte, também — pode ser esta: “Meu romance com Shayna começou com nosso primeiro beijo. Nunca vou me esquecer”. Não amo de paixão essa construção porque ela usa com duas vezes em meia dúzia palavras, mas pelo menos nos livramos da maldita voz passiva.

Você também deve ter percebido que fica muito mais simples entender o pensamento quando é dividido em dois. Assim fica mais fácil para o leitor, e ele deve ser sua maior preocupação sempre. Sem o Leitor Constante, você é apenas uma voz grasnando no vácuo. E não é simples ser o cara do lado receptor. “[Will Strunk] sentia que o leitor estava em grandes apuros a maior parte do tempo”, escreveu E. B. White na introdução de The Elements of Style — “é um homem atolado em um pântano, e o dever de qualquer um que tente escrever é drenar esse pântano rapidamente para levar o leitor a algum lugar seco, ou ao menos lhe jogar uma corda”. E lembre-se: “o escritor jogou a corda”, não “a corda foi jogada pelo escritor”. Faça-me o favor."

5- Evite advérbios

"Outro conselho que dou a você antes de seguirmos para a próxima bandeja da caixa de ferramentas é: o advérbio não é seu amigo.

Os advérbios, como você deve se lembrar das aulas de Inglês Empresarial ou coisa que o valha, são palavras que modificam verbos, adjetivos ou outros advérbios. Eles geralmente terminam em “-mente”. Os advérbios, como a voz passiva, parecem ter sido criados para o escritor tímido. Com a voz passiva, o autor em geral demonstra medo de não ser levado a sério; é a voz de menininhos usando bigodes de canetinha e de menininhas andando para lá e para cá com os saltos altos da mamãe. Com os advérbios, o escritor nos diz que tem medo de não se expressar com clareza, de não conseguir passar a mensagem. Considere a frase “Ele fechou a porta firmemente”.

Não é, de forma alguma, uma frase horrível (pelo menos tem um verbo ativo), mas pergunte a si mesmo se “firmemente” precisava de fato estar ali. Você pode argumentar que a palavra expressa um grau de diferença entre “ele fechou a porta” e “ele bateu a porta”, e eu não vou contra-argumentar... mas, e o contexto? E toda a prosa esclarecedora (para não dizer comovente) que veio antes de “Ele fechou a porta firmemente”? Ela não deveria nos dizer como ele fechou a porta? E se tal prosa nos disse como foi, “firmemente” não estaria sobrando? Não é redundante?

Alguém por aí agora está me acusando de ser chato e detalhista. Eu nego. Acredito que a estrada para o inferno esteja pavimentada com advérbios, e vou continuar bradando isso aos quatro ventos. Dizendo de outra forma, advérbios são como dentes-de-leão. Se você tem um no seu gramado, ele é bonito e singular. Se, no entanto, você não arrancá-lo, vai encontrar cinco deles no dia seguinte... cinquenta no outro... e depois, irmãos e irmãs, seu gramado estará total, completa e extravagantemente coberto com dentes-de-leão. Então você vai enxergá-los como as pragas que realmente são, mas aí — GLUP! — será tarde demais."

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