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Dicas de Escrita

O trabalho artesanal com a linguagem

Primeiro, assista ao vídeo abaixo:



O título do vídeo é "O Poder das Palavras", mas bem poderia se chamar o poder da literatura. O primeiro cartaz apela para a razão das pessoas, informa aos transeuntes que o senhor é cego e precisa de ajuda. O segundo cartaz apela para a emoção, dá a entender que o senhor é cego e precisa de ajuda. Como se operou essa mudança? Pelas palavras.

O uso consciente, desautomatizado, artístico da palavra é talvez a maior marca da literatura em todos os tempos. Claro que os parnasianos levaram isso ao extremo, enquanto os modernistas criaram aquela linguagem aparentemente despreocupada. Mas não se engane: em ambos cada palavra foi medida, escolhida, necessária.


Língua Portuguesa
Olavo Bilac
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos velaÂ…
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!

Poema tirado de uma notícia de jornal
Manuel Bandeira
João Gostoso era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num barracão sem número
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.


Esse uso artesanal da linguagem significa que:

1) cada palavra no texto deve ter ali sua função, estar a serviço do texto como um todo. Especialmente num texto curto, nada deve sobrar. Um adjetivo mal colocado revela ao leitor mais que seria desejado;

2) a literatura valoriza o "floreio" linguístico, a inversão sintática, o uso de vocabulário rico. Evite, entretanto, o exagero. Nada pior que um texto pernóstico ou um texto confuso. O segredo da literatura contemporânea está em ser original e criativa com leveza e simplicidade;

3) observe o ritmo do seu texto, a sonoridade dele. Não é necessário, evidentemente, que um texto em prosa rime o tempo todo (isso não é nem desejado). Entretanto há alguns efeitos de linguagem que se pode obter com o som que devem ser de conhecimento do autor para que eventualmente ele utilize (assonância, aliteração). Por outro lado há alguns defeitos de som que devem ser evitados, como a cacofonia e a rima pobre;

4) a escolha correta do vocabulário e da sintaxe dos personagens (incluindo aí o narrador) é muito importante para a fluidez e a verossimilhança de um texto. Se seu narrador ou personagem é um erudito, faz sentido ele usar o pretérito-mais-que-perfeiro (fizera) e a mesóclise (far-te-ei), por exemplo. Mas não fará sentido ele usar uma gíria logo depois.

5) precisão vocabular: você não lembra qual a palavra exata para descrever o quarto dedo da mão? Procure. Você tem o universo da internet à disposição, incluindo aí dicionários online. Evite termos genéricos e prefira sempre ser preciso na linguagem. Nesse sentido, é sempre aconselhável que o escritor escolha escrever sobre temas com os quais conviva. Seria muito difícil para mim, por exemplo, escrever com precisão sobre uma orquestra, já que não conheço o nome dos instrumentos, das teclas, dos métodos. Já me seria mais fácil escrever sobre tecnologia, esportes ou cinema, por exemplo.

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Marcelo Spalding

 

 

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